Via Franca Turismo

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sábado, 13 de março de 2021

Paisagem da janela


 Em Geografia, paisagem é tudo o que podemos perceber utilizando os nossos sentidos, principalmente a visão... Então, tudo o "que os nossos olhos veem" pode ser considerado paisagem... Desde o bucolismo de vaquinhas pastando em verdejantes pastos no sopé de uma montanha até o caos de uma grande cidade.

Quando abro a minha janela vejo uma paisagem cotidiana, que me enche de energia e vigor... Inclusive, tenho vistas diferentes, nas várias janelas e sacada do meu apartamento. Dá para observar o alvorecer (daí a alusão a ser revigorante) e também um pedacinho do ocaso, nas tardes que não despenca aquele aguaceiro característico dos dias quentes de verão.

Tenho a sorte de não existir anteparos que bloqueiam boa parte desse "olhar"... Numa cidade verticalizada, nem sempre isso é possível, por isso muitos buscam campos visuais mais amplos, nos seus momentos de lazer em outros lugares... Só quem sobe até mirantes sabe descrever o prazer de ficar contemplando o infinito...

O verde, também predominante na vista das minhas janelas é essencial... Isso também é sorte, pois numa metrópole, nem sempre temos em abundância (ressalta-se ainda a quantidade de pássaros que são atraídos por ele, com uma sinfonia diária de melodiosos cantos)... Se o clube esportivo, nosso vizinho (onde existe esta área verde avistada da minha janela), não causasse tantos transtornos, resultado de uma completa falta de educação, respeito e senso coletivo da maioria dos seus frequentadores, seria perfeito...

Coloquei várias imagens tiradas por estes dias (sem as cores do nascer e por do sol, pois foram feitas no meio da manhã) e compartilho aqui... A pandemia, o isolamento, me deram ainda mais tempo observando árvores e construções na linha do horizonte, da minha paisagem... 

E na sua casa, condomínio, bairro, cidade, como é a paisagem?

Parafraseando Marcel Proust: "a verdadeira viagem de descoberta não consiste em procurar novas paisagens, mas em ter novos olhos..." Então, vamos apurar o nosso olhar sobre o que nos recebe todos os dias...











quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Viajar com crianças


O título da postagem poderia ser "viajar com filhos", mas daí eu não poderia contar aqui a minha experiência, pois não sou pai, rsrs... Então, ficamos com "viajar com crianças" mesmo, pois daí consigo comentar situações que já passei em viagens com os meus sobrinhos, a Isa, o Gabriel e a Dudinha e também o que já ouvi de amigos que tiveram a mesma oportunidade, com os seus filhos.

Ah, antes é bom lembrar que a Via Franca Turismo tem uma boa parte da sua atuação, dentro do turismo pedagógico (os famosos "passeios escolares"), assim sendo também viajamos bastante com crianças, alunos das instituições parceiras. Mas, não vou escrever sobre elas, não!

Muitos pais sabem que a sua vida muda, literalmente, com a chegada dos filhos, alterando, inclusive a sua rotina de passeios e viagens...

O grande barato é que "lugar comum" imaginar-se viajando com os pequenos e buscar o conforto de resorts ou hotéis com estrutura de lazer e de copa... Claro, que há várias opções de empreendimentos neste setor, onde conheço vários que recomendaria. Mas, confesso, que me incomoda um pouco presenciar famílias em férias, onde os filhos ficam "full time" com uma equipe de recreação do local, convivendo com os pais apenas nas refeições (muitas vezes nem o almoço é compartilhado) ou já recolhidos no quarto para dormir.

Por isso, quero aqui sugerir, viagens de férias mais intimistas, onde poderiam ser procuradas pousadas na praia ou no campo, sem estrutura voltada para o lazer de crianças, mas que proporcionassem uma maior convivência entre pais e filhos... Sabe aquela pousadinha "pé na areia" com menos barulho, menos música, sem monitores especializados, mas que pode melhorar o vínculo entre os membros da família... Buscar um lugar que não reproduza o conforto da sua casa, com mega estrutura de cozinha, tv por assinatura com canais de desenho 24 horas por dia, etc e tal.

Pense nos benefícios para os seus pequenos... Na correria do nosso dia, quase não temos tempo para curtir coisas corriqueiras e em um período sabático, há uma maior oportunidade de conexão entre todos. Não ter horários rígidos para sair em um passeio pré-agendado, para participar de alguma gincana infantil, caça ao tesouro, brincadeiras no "horário X" na piscina (com duração previamente determinada) ou aulinhas de fazer isso ou aquilo com a monitoria, nos coloca em maior sintonia com o local (se tiver "abundância de natureza" no entorno é ainda mais perfeito) e consequentemente com a família... Tentem abandonar horários e rotinas que são constantes no nosso cotidiano e relaxem, rsrs... Usufruam do tempo ocioso, da companhia dos pequenos e aproveitem... Todos ganham e as crianças crescem rápido demais, rsrs.

Fazemos muito isso... As minhas irmãs adoram alugar um apartamento no litoral paulista, que dá para ficar toda a galera, numa muvuca deliciosa... Há também pousadas na região serrana (como Campos do Jordão) que criam um ambiente familiar muito gostoso, onde conseguimos conversar próximo da lareira, caminhar pelos arredores ou apreciar um chocolate quente no final da tarde... Opções não faltam.

Pensem nisso e que possamos voltar o quanto antes a viajar sem restrições e com total segurança... 




quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Folia de Reis - uma das mais belas manifestações populares brasileiras

(ao lado de um grande ídolo, na gravação do programa na TV Cultura, Rolando Boldrin, um dos grandes divulgadores da cultura nacional)

Apesar de ser uma tradição portuguesa, inspirada na tradição católica de visita dos três Reis Magos ao menino Jesus, as Folias de Reis chegaram ao Brasil no século XVIII e se popularizaram entre os habitantes de muitos estados (principalmente Minas Gerais, Goiás e São Paulo)... É, inclusive, patrimônio imaterial do estado de Minas Gerais.

Ontem, dia 06 de janeiro, foi "dia de Reis"... Desde criança, a minha ligação com as folias sempre foi muito grande... Para mim, elas representam uma das manifestações populares mais autênticas e expressivas que existem... O meu avô materno, Antônio, as apreciava e ouviu todas as suas variações até próximo do seu passamento... O meu pai até bem pouco tempo atrás, ficava ligado nos dias de apresentações delas, lá na nossa Franca, e me ligava: " filho, sábado tem apresentação das folias, lá na exposição... Você vem?" E, eu ia... E ficávamos horas no meio da festa (os meus olhos marejaram, agora).

Mas, o que me marcou mesmo sobre elas, foi na infância, no sítio da tia Geralda, lá em Ituverava, próximo ao povoado de Capivari da Mata, quando eu ia passar férias com a minha vó Zilda, a minha madrinha... Como sempre estávamos lá entre o Natal e o dia de Reis, era comum presenciar as apresentações das folias, no sítio dela...

Lugar bucólico, sem energia elétrica, iluminado por lamparinas à querosene, dormia-se muito cedo ("com as galinhas", segundo uma expressão muito usada na época)...Mas, nas madrugadas sempre vinham os foliões com as suas bandeiras, roupas coloridas, violas, sanfonas e pandeiros enfeitados com fitas... Lembro-me de acordar com uma música bem distante e olhar pela janela, na amplidão do pasto que rodeava a antiga casa, enxergando as luzinhas cintilantes dos candeeiros deles... O coração já acelerava... A música crescia na medida que se aproximavam e havia toda uma reverência para adentrar a casa... Sempre era oferecido cachaça para os foliões, dinheiro na forma de esmola para a igreja e um delicioso bolinho de polvilho, servido para todos, com café (não era o biscoito tradicional que conhecemos aqui em São Paulo, mas um bolinho sovado com erva doce e frito na hora, crocante por fora e muito macia no seu interior, uma das especialidades da minha família, para a "merenda").

Os foliões cantavam, dançavam e bebiam muita cachaça... E nós, da casa, ficávamos ali atônitos, extasiados, hipnotizados pelo colorido e pelas vozes agudas e bem afinadas... A reverência de oferecer a bandeira para a dona da casa, que a beijava e era consagrada por ela, tinha uma beleza ímpar.

Lembro-me que os palhaços sempre me assustavam e para amenizar os meus primos, bem mais velhos do que eu, Francisco, Maria das Graças e Antônio José, me diziam: "deixa disso, moleque, é o Acácio da tia Jerominha que tá vestido assim para zombar de ti..." Era nada, rsrs, o Acácio era bem mais alto e gordo que aquele marungo!!!!

Os foliões eram todos lavradores, vizinhos da tia Geralda (muitos até nossos parentes), que haviam trabalhado o dia todo na roça, na enxada, debaixo de sol e chuva, mas à noite se transformavam em seres divinos, que trocavam o seu cansaço pela alegria de louvar e encantar a todos nós... Era sublime...

Tem cenas que sei que nunca mais vou viver, até mesmo porque faltarão os seu protagonistas... Esta é uma delas... Felizmente, ainda está viva e bem forte na minha memória...

Sou um sujeito de sorte, em ter tido na vida, referências tão fortes como a vó Zilda e a tia Geralda... Hoje, através do meu estudo e do meu trabalho, posso contribuir para que estas tradições não sejam esquecidas... Saúdo e parabenizo o esforço de todos que sustentam a contragosto da globalização e da padronização dos costumes, as nossas mais tradicionais manifestações populares... E lembro, que a Folia de Reis não é exclusiva das pequenas vilas e áreas rurais... São Paulo e Guarulhos (sede afetiva da Via Franca Turismo) possuem diversas delas, bem ativas, como a Companhia de Santo Reis Estrela do Oriente da Vila Nhocuné (São Paulo), Companhia de Santo Reis do Bom Clima (de Mestre Macuco e Mestre Geraldo, de Guarulhos), a Companhia de Santo Reis Estrela Guia, de Vila Barros (Guarulhos) e a Companhia de Santo Reis Divina Luz, do Jardim Adriana (Guarulhos)... 

Mesmo com um dia de atraso, desejo que os Reis Magos tragam a todos, muita esperança e prosperidade...

PS.: escolhi ilustrar a postagem com uma imagem minha, na companhia do genial Rolando Boldrin, que representa a resistência da nossa genuína cultura contra a massificação, imposta a todos nós, diariamente!!! Ubuntu, Sr. Brasil...

Texto de Evanir B. Penna (professor, guia de turismo e sócio proprietário da Via Franca Turismo)

(a linda composição "Cidade da Galileia" na voz do Capitão Tostão e demais membros da Folia de Reis Família Santos de Romaria, MG)